24 de maio de 2010

CASAMENTO DA BONECA- LITERATURA INFANTIL

A boneca vai casar.Tem apenas 12 meses, mas vai casar. A mãe tem oito anos e o sorriso dum desenho de poulbot.
O noivo é alferes de cem francos. É um noivo rico. Só de direitos, pagou na alfândega, nove mil réis.
Para a cerimónia nupcial, vestiram-no de grande uniforme. Um primo da sogra que anda nas belas artes condecorou-o com a Cruz de Guerra.
Um aluno de hitória, que já chegou a Austerlitz aconchegou-lhe a mão direita no peito da casaca. Pronto Napoleão em Santa Helena
A noiva está linda.Vestidinho branco, véu e flor de laranjeira. Tudo como se tivesse vinte anos e um primo alferes de cavalaria. Sentada numa cadeira de espaldar, aguarda o noivo com um sorriso nos lábios,
Aproxima-se da igreja,improvisada no vão duma janela, o cortejo nupcial.
O padre que ainda não fez exame da instrução primária, finge que pronuncia em latim, as palavras sacramentais. A mãe da noiva enxuga os olhos com um lencinho de cambraia. No minuto solene, toda a gente ajoelha com devoção.
Enfim! Estão casadinhos. Debanda o cortejo. Os noivos foram passar a lua de mel ao jardim. Entretanto jantam os convidados. Belo apetite. O vinho do Porto trepa àquelas cabecinhas frágeis e dentro em pouco ninguém se lembra já dos noivos que continuam muito juntinhos., à beira do lago azul.
Nasceu uma estrela. Alguns convidados já têm sono. O primo das Belas Artes zangou-se com o aluno de História, ambos de sete anos, e disseram que não queriam brincar os dois.
A mãe da noiva, na sua qualidade de sogra, também de oito anos, ainda quis manter a disciplina, mas o das Belas Artes que era o pai do alferes, franziu o sobrolho e declarou que ia requerer o divórcio.
Pânico geral.Fugiram todos os convidados para o jardim. A noite estava um encanto. Minuto de tragédia. Junto do lago não havia viva alma. Os noivos tinham desaparecido . Percorreram todo o jardim mas não os encontraram. Num telhado em frente miavam dois gatos. No céu, havia já um chuveiro de estrelas. Os convidados recolheram então penates, mais tristes que a noite.
No dia seguinte, os noivos apareceram no telhado. COITADOS!. Passaram a noite de núpcias à LA BELLE ÉTOILE, em casa de dois gatos, que por sorte, também tinham casado nesse dia. Os noivos foram os seus aconchegos para dormirem regalados à Luz das estrelas...em 1920.

de Norberto Lopes

Lia eu esta história que veio ter às minhas mãos, encontrada num alfarrábio de minha mãe e pensa va como na infância gostava destas brincadeiras e como era saudável esta alegria.
Hoje perderam-se muitos valores.Deixam as crianças de serem crianças mais cedo porque ausentes desta alegria criadora, imaginativa e pura. Se a diversão e a informática estão avançadas a pureza de infantilidade tem um certo retroscesso. Jã não se brinca como brincava e os pais sentem uma certa impotència para o fazer.Recordo outras tantas brincadeiras que tantas horas me ajudaram a viver em comunidade, sem que na devida altura a hora de ser cristã se tornasse realidade. Belos tempos que foram e não voltam, a não ser nos lugares aonde ainda não chegou o progresso.

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