25 de maio de 2012

Capítulo XI



Explicação dos Três Versos da Canção


1. Esta inflamação de amor de modo ordinário não é sentida logo no princípio da noite, seja por causa da impureza do natural que lhe não permite manifestar-se, ou seja, porque a alma, não compreendendo esse novo estado, não lhe dá pacífica entrada. Entretanto, às vezes, — exista ou não esse obstáculo, — logo começa a alma a sentir-se com desejo de Deus; e quanto mais vai adiante, mais se vai aumentando nela esta afeição e inflamação de amor divino, sem que a própria alma entenda nem saiba como ou donde lhe nasce o amor e afeto. Chega por vezes a crescer tanto, no seu íntimo, essa chama e inflamação, que o espírito com ânsias de amor deseja a Deus. Realiza-se na alma, então, o que David, estando nesta noite, disse de si mesmo, com estas palavras: “Porque se inflamou o meu coração” (Sl 72, 21), — a saber, em amor de contemplação — “meus rins foram também mudados”, isto é, meus gostos e apetites sensíveis foram transformados, transportando-se da via sensitiva à espiritual, nesta secura e desaparecimento de todos eles, de que vamos falando. “E fui reduzido a nada, e aniquilado, e nada mais soube”: porque, como já dissemos, a alma, sem saber por onde vai, se vê aniquilada acerca de todas as coisas do céu e da terra nas quais costumava deleitar-se; apenas se sente enamorada, sem saber como. Algumas vezes, por crescer muito a inflamação de amor no espírito, tornam-se tão veementes as ânsias da alma por Deus, que os ossos parecem sacar-se com esta sede. A natureza desfalece perdendo seu calor e força, pela vivacidade de tão amorosa sede; pois, na verdade, a alma experimenta como esta sede de amor é cheia de vida. Era a mesma sede que David sentia e tinha dentro de si, quando disse: “Minha alma teve sede do Deus vivo” (SI 41, 3), isto é, viva foi a sede que minha alma sentiu. E sendo viva, pode-se dizer que esta sede mata. É preciso, porém, advertir que a veemência de tal sede não é contínua, senão intermitente, embora de ordinário a alma sempre a sinta algum tanto.






2. Deve-se notar bem, conforme já ficou dito, que não se experimenta desde o início este amor, mas sim a secura e vazio já referidos. Neste tempo, em vez da inflamação de amor que irá depois aumentando, sente a alma, em meio àquelas securas e vazios das potências, um constante cuidado e solicitude por Deus, com pena e receio de O não servir. Nem é pouco aceitável aos olhos de Deus este sacrifício em que o espírito está atribulado e solícito por Seu Amor. Esta solicitude e cuidado provém daquela secreta contemplação, que, depois de ter por algum tempo purificado a parte sensitiva, nas suas forças e apegos naturais, por meio das securas, vem enfim a inflamar no espírito o amor divino. Enquanto não chega a este ponto, está a alma como doente, submetida a tratamento: tudo se resume em padecer nesta obscura e árida purificação do apetite, em que se vai curando de numerosas imperfeições, e ao mesmo tempo se exercitando em grandes virtudes, para tornar-se capaz do amor de Deus, conforme diremos agora ao comentar o verso seguinte:






Oh! ditosa ventura!






1. Deus põe a alma nesta noite sensitiva a fim de purificá-la no sentido, isto é, na sua parte inferior; e assim o acomoda, submete e une ao espírito, obscurecendo o mesmo sentido em todo trabalho do discurso que lhe é então impedido. Depois, procede Deus igualmente na purificação do espírito, para o levar à união divina, pondo-o na noite espiritual de que falaremos em tempo oportuno. Destas purificações vêm à alma tão grandes proveitos, — embora a seus olhos não pareça assim, — que julga ser “grande ventura” haver saído do laço e aperto do sentido da parte inferior, mediante esta noite. E então canta o presente verso, deste modo: “Oh! ditosa ventura!” É bom assinalarmos agora quais os proveitos encontrados pela alma nesta noite escura, pois eles a levam a considerar “grande ventura” passar por tudo isso. Tais proveitos são resumidos pela alma no seguinte verso, a saber: “Saí sem ser notada”. Esta saída se refere à sujeição que a alma tinha à parte sensitiva, buscando a Deus por exercícios tão fracos, limitados e contingentes, como são os desta parte inferior. A cada passo tropeçava com mil imperfeições e ignorâncias, como já mostramos a propósito dos sete vícios capitais. De tudo a alma se liberta, pois na noite escura vão arrefecendo todos os gostos, temporais ou espirituais, e obscurecendo-se todos os raciocínios, além de lucrar outros inumeráveis bens na aquisição das virtudes, como agora vamos dizer. Será de grande satisfação e consolo para quem é levado por este caminho ver o que parece tão áspero e adverso, e tão contrário ao sabor espiritual, produzir tão grandes benefícios no espírito. Estes proveitos são conseguidos, já foi dito, quando a alma sai, segundo a afeição e operação mediante a noite, de todas as coisas criadas, elevando-se às eternas. Aí está a grande ventura e dita: de uma parte, o grande bem que é mortificar o apetite e apego em todas as coisas; de Outra parte, por serem pouquíssimas as almas que suportam e perseveram entrando por esta “porta apertada e este caminho estreito que conduz à vida”, conforme diz Nosso Senhor (Mt 7, 14). A “porta apertada” é esta noite do sentido do qual a alma é despida e despojada para poder entrar firmando-se na fé, que é alheia a todo o sentido, a fim de caminhar depois pelo “caminho estreito” que é a outra noite, a do espírito. Também nesta, continua a adiantar-se para Deus em pura fé, único meio pelo qual se une a Ele. Este caminho, por ser tão estreito, escuro e terrível, — pois não há comparação entre a noite do sentido e a obscuridade e trabalhos da noite do espírito, — é percorrido por muito poucas almas; mas em compensação, seus proveitos são incomparavelmente maiores. Começaremos agora a dizer algo sobre os benefícios da noite do sentido, com a brevidade que for possível, a fim de passar depois à outra noite.







Fonte:

Traduzido pelas Carmelitas Descalças do Convento de Santa Teresa do Rio de Janeiro.

20 de maio de 2012

NOSSA SENHORA DO BOM REMÉDIO


Nossa Senhora do Bom Remédio
1/25/2009 Estudantes Trinitários
8 de outubro


Nossa Senhora do Bom Remédio


I Celebração de Nossa Senhora do Bom Remédio


“Os religiosos Trinitários, que têm como finalidade especial honrar a Trindade divina com particular culto, promover esta fundamental devoção e exercitar as obras de misericórdia para socorrer os necessitados, já desde a origem da Ordem veneraram com singular devoção a Virgem Maria, sacrário da augusta Trindade, sob o titulo de ´Bom Remédio`... Este culto especial à Mãe de Deus, que cura os males de quantos recorrem a ela com confiança, se manteve através dos séculos..., e ainda hoje está com todo seu vigor e se mantém florescente” (Ofício das Leituras). Com estas palavras de João XXIII se sintetiza admiravelmente o modo como nós Trinitários contemplamos o mistério de Maria. Ela é antes de tudo o “Sacrário da Augusta Trindade”. Com este título se indica quem foi Maria para Deus e ante Deus. A grandeza incomparável da Virgem vem de sua especialíssima relação com Deus-Trindade.


O Pai a elegeu e a predestinou antes de todos os séculos para realizar nela a maravilha da maternidade divina. Realmente, só Maria pode dizer “...o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor” (Lc. 1,49). O Filho do eterno Pai se fez filho do homem em seu seio virginal. A íntima e insuperável união de Maria com Deus, tem lugar através do Filho de Deus que é realmente seu próprio Filho. Se Maria é o Sacrário da Santíssima Trindade, é porque Deus habitou pessoalmente nela, isto aconteceu de um modo especial no mistério da encarnação: por sua maternidade divina a virgem guarda em seu seio o Verbo eterno, e, com Ele, em íntima e indissolúvel comunhão ao Pai e ao Espírito. Pelo Espírito Santo se realizou o mistério da encarnação: ele a fecundou com seu poder, a cobriu com sua sombra, ou seja, a revestiu de Deus para que Deus mesmo se fizesse nela homem. Por isso, “que toda língua te louve, Mãe de Deus, esposa do Espírito Santo e Filha amantíssima do Pai” (Ant. 1 das Laudes). O título com que a Ordem venera a Virgem de Nazaré expressa estupendamente sua relação conosco: ela é a Mãe do Bom Remédio. E quem é o remédio dos homens, senão Jesus Cristo, seu Filho? Ele é a saúde, a salvação, o remédio de todos os males que afligem o homem, e Maria é a mãe deste: “Maria deu à luz Jesus, nos trouxe o remédio e nos deu a salvação” (Ant. 2, I Vesp.).


Mas Maria não se contentou só em dar ao mundo o Redentor que tratasse nossas feridas e curasse todas nossas enfermidades: a Virgem esteve perto de seu Filho para adiantar a hora de sua manifestação como remédio de nossas necessidades. Assim como a vemos em Caná intercedendo diante de Jesus para que desse uma solução para a falta de vinho, também a vemos ao longo de nossa historia animando e sustentando com sua maternal solicitude a obra da redenção dos cativos. Aqui não se trata de oferecer remédio a um imprevisto de pouca relevância como em Caná, e sim de interceder contra uma grande injustiça, que colocava em perigo a fé dos cativos e os conduzia à degradação de sua dignidade humana. Se Maria é a Mãe do Bom Remédio, do remédio dos homens, isto deve manifestar-se especialmente em nosso compromisso pela libertação de toda forma de escravidão (Cf. Lc 1,79). Maria nos da o que ela tem, o bom remédio, para que nós o levemos aos irmãos que carecem dele, por que sofrem em sua carne a injustiça, cuja máxima expressão é a exploração da fé em Deus, ou vivem cativos do pecado, da pobreza e da enfermidade. Ela nos dá o bom remédio conduzindo-nos para seu Filho, infundindo em nós a confiança nele, em seu amor por nós que é mais forte que a morte “fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5). E Cristo nos manda fazer o que ele mesmo fez, levar adiante sua missão libertadora “Para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18 ss). Mas já antes, a Virgem Maria, dando voz ao Filho que levava no ventre, celebrou antecipadamente esta missão de Cristo, quando no Magnificat canta as grandes obras do Senhor em favor dos pequenos e oprimidos: “agiu com a força do seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53). Maria se pôs e se põe maternalmente ao lado dos discípulos de seu Filho que passam necessidade, que sofrem perseguição e estão encarcerados, para oferecer-lhes o remédio que ela tem: a saúde, a salvação, a liberdade de seu filho Jesus Cristo. A nós cabe seguir seus passos colaborando ativamente na redenção dos homens conforme o carisma próprio: para esta missão ela veio e por isso a invocamos como Mãe do Bom Remédio.


. II Maria em nossa vocação Trinitária
Todos os Institutos Trinitários veneram a Virgem Santíssima como Mãe e Patrona, porque nós Trinitários somos e nos sentimos Igreja. E Maria é Mãe da Igreja. Neste vínculo especial que nossa família religiosa tem com a Santíssima Trindade, também olha com satisfação a Santíssima Virgem e descobre nela de um modo perfeito estreitas relações com as três Pessoas. Igualmente a Família Trinitária ao ver-se dedicada à redenção dos cativos, sabe que depois de Jesus Cristo, o Divino Redentor, ninguém como Maria tem sido remédio de quantos gemem na catividade e por isso se sente particularmente ligada à Ela que tanto fez e faz pela redenção. A Virgem do Bom Remédio, Patrona da Ordem Trinitária.Tu és nossa proteção, Tu és nosso refúgio, Tu es nosso melhor remédio, ó Maria (Ant. 3, I Vesp.). Na carta de João XXIII, que lemos nas II Leitura da festa de Nossa Senhora do Bom Remédio, se diz o seguinte: “O Capítulo Geral da Ordem da Trindade, celebrado em 1959, fazendo seus os desejos de anteriores Capítulos, pediu à Santa Sé que declarasse a Virgem do Bom Remédio Patrona da Ordem... O Papa respondeu: “Concedemos com muito gosto o que nos pedem os Trinitários, na confiança de que assim terão um motivo a mais para arder sempre no amor da Virgem Mãe, venerando-a com este título tão doce e se sentirão comprometidos a trabalhar com ímpeto em aliviar e remediar os necessitados”. E na mesma Leitura se faz um pequeno resumo da devoção Mariana que ao longo dos anos tem florescido sempre na Ordem. “Os religiosos Trinitários, que têm como fim especial honrar com peculiar culto a Santíssima Trindade e propagá-lo entre os fiéis, têm tributado desde suas origens especiais provas de veneração e de piedade à Santa Virgem, por ela ser Filha do Pai, Mãe do Filho e Esposa do Espírito Santo, Sacrário de toda a Trindade. Segundo muitos antigos documentos, as festas da Virgem eram celebradas solenemente entre os Trinitários – a mesma regra dá testemunho disso – e semanalmente, por privilégio, já desde o ano 1262, rezavam as comunidades Trinitárias o Ofócio da Virgem. Levados por este afeto para com a Santíssima Virgem muitas vezes exaltavam com seus escritos e pregações as grandezas e previlégios de Maria (especialmente o de sua Imaculada Conceição). Eram os Trinitários movidos a dar este culto especial à Virgem com as três Pessoas da Trindade, e pelo grande amor com que a virgem colaborou pela redenção do mundo, e porque freqüentemente ao realizar as redenções dos cativos, experimentaram especial ajuda da Virgem do Remédio. Tudo o que contribuiu mais e mais para que os Trinitários cada dia se distinguissem em venerar a Virgem com título do Remédio, ou do Bom Remédio, e que em sua honra erigissem confrarias, altares e imagens. E a Virgem com graças singulares deu bem a entender quanto lhe era agradável esta invocação”. Devido as habituais práticas de devoção à Virgem em todas comunidades Trinitárias, e a singular devoção de seus mais insignes filhos, se foi criando uma atmosfera Mariana em toda a Ordem. São eloqüentes as palavras que diz o instrucional de noviços: “É necessário que os noviços estejam advertidos de que um dos grandes consolos que têm nossos religiosos é o de ter por Mãe, Patrona e Advogada a Santíssima Virgem, e desde os princípios e primeiros passos na religião beber de sua afetuosa devoção e seu infinito amor, e sermos todos seus perpétuos guardiões, gastando grande parte da vida em servi-la, honrá-la e venerá-la”. (Instrucional P. 101). Desde as origens, como aparece nos livros que regiam a marcha da comunidade Trinitária, cada manhã se cantava a missa em honra à Virgem; e além do Ofício Divino Litúrgico, se rezava o Oficio Parvo (pequeno) da Virgem. Rapidamente acrescentaram o rosário, a Salve Rainha cantada nos sábados e vigílias das festividades marianas, as ladainhas durante a noite, uma especial solenidade nas festas e uma preparação especial para as mesmas festas da Virgem. A Tradição e a Historia nos transmitiram provas de particular devoção com que todos nossos santos e beatos honraram e foram honrados pela Virgem: São Felix com a lendária aparição na noite que precede a Natividade; São João de Matha com especiais intervenções em suas redenções; o Santo Reformador nos momentos de grande apuro; o inigualável devoto da Virgem São Simão de Rojas, o primeiro noviço Frei Pedro do Menino Jesus, Irmã Ângela da Conceição, etc,etc. E em nossos tempos o Bem Aventurado Domingos Iturrate do Santíssimo Sacramento e os servos de Deus Félix da Virgem e Monsenhor José Di Donna, nos dão também exemplos de singular devoção a Maria.


III Maria em nossa vida espiritual
A Virgem, desde o princípio esteve elevada a este alto estado, e nunca teve impressa em sua alma forma de humana criatura, nem por ela se moveu; sua moção foi pelo Espírito Santo (São João da Cruz). Ninguém chegou a tão excelente altura na vida espiritual, nem tem tanto interesse em proteger-nos para que também em nós se vá aperfeiçoando a vida espiritual, como a Virgem. Ela é também nisto, nosso melhor modelo e nossa Patrona. E no processo de espiritualização, como no de cristificação, esperemos a ajuda de Maria e recorramos ao seu amparo. É na encarnação, onde se apresenta para nós a íntima união de Maria com seu Filho, é evidente a intervenção do Espírito Santo. O Espírito Santo descerá sobre ti (Cf. Lc 1,35). Maria concebeu por obra e graça do Espírito Santo. E quando o Espírito Santo desceu sobre a Igreja no dia de Pentecostes, Maria ocupou um lugar especial. Seja no Mistério de Cristo, seja no Mistério da Igreja, o Espírito Santo e Maria aparecem estreitamente unidos. O primeiro aspecto oferecido à nossa meditação no Mistério de Maria é a iniciativa do Espírito Santo que predispôs a Maria com privilégios e graças singulares. A preservou de todo pecado já desde sua Imaculada Conceição, habitou em Maria como um templo santo e adornado com grandíssima graça. Os dons de Deus nascem de seu amor; não nos esqueçamos. A cena da Encarnação, seu diálogo com o anjo, sua atitude ante a Palavra de Deus, os episódios da infância de Jesus, como a visita à sua prima Santa Isabel, o Nascimento, a apresentação no templo, o cumprimento exato de quanto a lei mandava às mães, a fuga para o Egito, a vida retirada em Nazaré, a busca durante três dias pelo Filho perdido no templo, nos mostram a que grau de santidade havia chegado Maria e sua constante e firme fidelidade – a Virgo Fidelis – às inspirações e moções do Espírito Santo. E o seu Magnificat é como uma radiografia, que nos deixa maravilhados e extasiados ante as belezas da alma de Maria. Ela que é proclamada bem aventurada porque creu, por suas virtudes teologais de fé, esperança e caridade, nos mostra como é concentrada e submergida em Deus, ou seja, em uma vida teologal e divina. Alma adoradora, eucarística, humilde e pobre, totalmente unida e submissa a Deus. Mais tarde se dirá dela: Maria conservava tudo em seu coração. É que estava cheia de Deus. Nas provas e dores, com o motivo do nascimento de seu Filho, da apresentação no templo, da fuga para o Egito, da perda do Menino Jesus, nem uma queixa; conforme o querer de Deus. Assim descreve um autor a vida de Maria: “se caracterizava por uma ação transbordante de dons do Espírito Santo, com as graças e com o exercício correspondente de virtudes que estas provocam e com os dons divinos que a aperfeiçoava modelarmente ao divino. Virtudes sobretudo de fé iluminada e de caridade ardente. Sua pureza de alma, seu equilíbrio perfeito, sua entrega total fazia com que sua vida mística fosse de um esplendor maravilhoso. Sua alma divinizada viveu praticamente em um êxtase interno constante. Ainda que toda envolta na mais humana e atraente simplicidade, ao mesmo tempo” (Jimenes Duque). O Espírito Santo foi dono e senhor absoluto e quem guiou perfeitamente a alma santíssima de Maria. Sua ação na Virgem foi sempre estupenda. São João da Cruz escreve: “Tais eram as graças da gloriosíssima Virgem Maria, a qual, estando desde o principio elevada a este alto estado nunca teve impressa em sua alma forma de humana criatura, nem por ela se moveu, sua moção foi pelo Espírito Santo”. E como o Espírito Santo é chama viva de amor, tanto ardeu em Maria que sua intensidade lhe abrasou e por fim teve de consumir a capacidade limitada da vida natural de Maria. Foi este amor que rompeu o fio da teia da vida de Maria, que morreu por amor. O Espírito Santo que interveio na encarnação de Cristo há de intervir na formação de Cristo em cada um de nós. E à medida que se vá formando Cristo em nós, iremos avançando na vida espiritual. E é também Maria que em união com o Espírito Santo fará crescer esta nossa conformidade com Cristo. Quando a cristificação em nós for mais perfeita, maior intervenção de Maria iremos ver em nossa vida espiritual.





IV Trabalhemos com Maria na Redenção



Os Trinitários, atendendo as necessidades da Igreja, estão obrigados a realizar um apostolado social e caritativo para com quantos gemem cativos da atual servidão e por isso correm perigo de perder a fé (Constituições, 93). Maria é nosso modelo e nossa Patrona na obra apostólica da redenção. Portanto, tenhamos sempre presente sua influência e tratemos de nos conformar a ela; se queremos realmente ser redentores. O amor que com tanta abundância derramou em Maria a Santíssima Trindade fez dela a melhor redimida e a mais empenhada na obra da redenção. Quanto maior for em nós o amor Trinitário, mais e melhor trabalharemos pela redenção. Como São Paulo, nos veremos obrigados a repetir: O amor de Deus nos impele. E se nossa vida alcançasse a santidade, a união transformante da Trindade, então não conheceríamos debilidades, nem desvios, nem interrupções em nossa obra redentora. Foi em Maria onde o amor Trinitário, que é amor redentor, encontrou seu grau mais excelente. Que esse amor Trinitário, redentor, cresça em nós; então nos encontraremos nas melhores disposições para ser redentores. Quanto mais semelhantes formos a Maria, tanto mais trabalharemos para redimir os homens. Tudo em Maria teve começo em sua incondicional disponibilidade à vontade de Deus. Quantas almas esperam de nosso sim, de nossa fidelidade à vontade de Deus, de nossa fidelidade à vocação redentora que a Trindade nos deu, sua redenção e sua participação na vida divina trinitária! Quanto mais e melhor formarmos em nós e nos outros a Cristo, mais contribuiremos com a redenção e a trinitarização dos homens. Por isso, com Maria, totalmente possuída pela Santa Trindade, devemos adotar a postura de uma total e generosa disponibilidade para com o mesmo Deus Uno e Trino. Este consentimento sem condições será denso em admiráveis conseqüências para redimir e fazer participar da vida Trinitária a todos os homens. Tendo em conta o modo como Maria foi associada à obra da redenção, entenderemos de que modo poderemos nos associar também à essa mesma obra. Como ao Divino Redentor e como a Maria, também a nós se pedirá o sacrifício. Como Cristo deu um sim que o levou até à cruz, e Maria deu o sim que terminou no seu calvário, nosso sim terminará também em nosso sacrifício. Sem esta atitude não seremos redimidos nem aos outros iremos redimir. As intervenções de Maria para realizar a redenção em favor dos membros da Igreja nos fazem ver igualmente de quantos modos e em quantos campos podemos dedicar a aplicação da redenção. Às vezes de nós se exigirá obras. Quem puder fazer obras não se contente com sentimentos. Isso não seria amor, senão ilusão de amor. Obras são amores. Em outras ocasiões se pedirá de nós o próprio sacrifício. Esse é desde já o modo mais conforme à redenção de Cristo. Nossos Trinitários não duvidavam em sacrificar-se a si mesmos a fim de aliviar e resgatar aos que sofriam. Sempre com a oração. Jamais os Trinitários se esqueciam em suas preces dos pobres cativos: pelos – afflictis et captivis – rogavam muitas vezes. Campos espirituais e materiais que estão esperando nossa intervenção os encontraremos por conseqüência da escravidão do pecado. Como não sentir vivissimamente que tantos, em vez de ser filhos de Deus, de viver a vida divina trinitária, estejam afastados de Deus, ou seja, como dizia Pio XII, corpos que levam uma alma morta pelo pecado? Maria, Mãe da graça, Mãe de misericórdia, defende-nos do inimigo.





Pe. João Borrego, OSST

10 de maio de 2012

Confiança e abandono




Deus ama-nos pessoalmente com um grande Amor de Benevolência, com um Amor infinito e eterno.



O Amor de Benevolência consiste em querer pura e exclusivamente o bem, e o melhor bem da pessoa amada.



Em Deus, o Amor de Benevolência é pessoal. Deus ama tal pessoa, ama cada um de nós, como estivessemos sós no mundo, porque o seu Amor é um e infinito.



Salários de amor divino



Todos os atributos de Deus estão à disposição do Amor de Benevolência que nos tem, a fim de nos santificar em seu Amor e em sua Graça, e poder comunicar-nos, na eternidade, sua Felicidade e Glória, porque o amor pede união, e a união, fim e triunfo do amor, constitui sociedade de bens e de vida. O amor não quer ser feliz a sós.



Os grandes atributos de Deus, que estão à disposição do Amor de Benevolência que ele tem à alma, são os seguintes:



A Sabedoria divina, que escolhe aquilo que melhor convém ao bem e ao estado atual da alma querida; a Prudência divina que aplica esses meios de santificação; o Poder divino, que nos ajuda, nos sustenta, nos defende; a Misericórdia divina, que dispõe sempre de um coração de mãe, para nos perdoar, nos levantar, pois a criança tem dois inimigos, isto é dois títulos à misericórdia: sua fraqueza e leviandade, sua tolice e presunção; a Providência divina, que combina todos os acontecimentos de tempo, de circunstâncias, em torno dessa alma querida, como o centro do movimento celeste e terrestre, a fim de que tudo lhe sirva para o seu fim sobrenatural.



É por isso que certas criaturas nos exercem a virtude e nos fazem sofrer, a fim de nos lembrar que estamos no exílio, no tempo de expiação, de amor crucificado com Jesus Cristo, nosso bom Salvador. Outras nos mostram o caminho durante algum tempo, e depois desaparecem, porque Deus substitui o Anjo Rafael, Moisés, Josué, . Outras são um espelho onde vemos refletidas nossas misérias (pelo menos possível) em relação ao mal e as más disposições de Adão. Outras são um livro de vida santa. Outras, pobres de Deus. Diz a Imitação que "não há criatura tão pequena e tão vil que não represente neste mundo a Bondade de Deus". não nos manifestam os próprios pecadores a Bondade de Deus, que lhes faz o bem até material, que os convida, os aguarda, pronto a perdoar?



É a Providência divina que não só nos coloca no caminho as criaturas que nos devem fazer exercer algum ato de virtude, como também determina, em sua Bondade Divina para com a alma, o estado do corpo, padecente ou são, porque é o regime indicado para o dia, a fim de glorificar a Deus deste ou daquele modo; é o boletim cotidiano assinado pela Providência divina.



Os estados naturais da alma, em se tratando das Graças que Deus dá e das obras que vai pedir, são também regidos por essa amável Providência, que ora dá mais vida ao espírito, ora ao coração, mas sempre à vontade, porque é a dona da casa, a serva de Deus.



Os estados espirituais da alma são sobretudo objeto da direção da divina Providência, porque são as verdadeiras condições de santificação.



Lei do dever



Daí se segue a grande lei de vida: devemos caminhar na direção do Sopro da Graça, devemos honrar a Deus pelos estados naturais e sobrenaturais, e nos servirmos de tudo o quanto a divina Providência nos oferece à passagem; devemos ver em tudo essa santa e amável Vontade em torno de nós e em nós, obrando sob sua direção, consultando sua inspiração, oferecendo-lhe a primeira intenção em tudo, prestando-lhe homenagem em qualquer imprevisto, em qualquer encontro, reconhecendo-a por toda a parte, supondo-a quando não a vemos nem ouvimos, pois gosta de se velar, gosta da obediência da fé e do amor de dedicação.



A conclusão segue-se:



O melhor estado para glorificar a Deus é o meu estado presente.



A melhor Graça é a Graça do momento. A lei do dever é aquela que o amor inspira e que o amor cumpre.



Guardai bem esta definição - é de Nosso Senhor discursando depois da Ceia: "AQmo o meu Pai, cumpro a sua Vontade e permaneço em seu Amor".



Ah! Permanecei no Amor de Deus, ou antes permanecei em sua Bondade, pois querer permanecer no Amor, suscitaria inúmeras tentações. Amo-o eu?



Ama-me Ele?



Permanecei pois na casa da Bondade divina e paterna de Deus qual criança que nada sabe, nada faz, tudo estraga, mas vive nessa doce Bondade.



Dai a mão a Deus



Aplicai-vos a ver em vós, em torno de vós, dentro de vós, essa Vontade de Amor de Deus que se ocupa de vós como se mais ninguém houvesse neste mundo. Adorai as razões de sua Providência divina, sempre sábia e amável. Ide a Nosso Senhor sem corpo, sem alma - deixai tudo isso na entrada, como servos - e conservai-vos sempre unida pela vontade a seu Amor. Caminhai simplismente, passo a passo, vossa mão na mão de Deus, qual cega, comendo o pão que ele vos der, qual verdadeira mendiga, vivendo de sua Graça atual, e encontrareis sempre boa pousada, boa família, boa mesa preparada pela divina Providência.



Recebei sempre com alegria e amor os bens de Deus. Notai de preferência sua Bondade, e não vossa malícia, suas Graças, e não vossos pecados, seus Benefícios, e não vossos pesares, sua Força, e não vossa fraqueza, seu Amor, e não vossa tibieza. Então, apegar-vos-ei pelo coração e pela vida a essa Bondade amável e incessante.



Vivei de gratidão, como o pobre. Esquecei vossas misérias, vossos próprios pecados, para viver um pouco como no Céu, onde há louvor e agradecimentos; onde o amor pela Santíssima Trindade é sempre novo e mais perfeito; onde os pecados são vistos somente por meio da Misericórdia de Deus, as obras por meio da sua Graça, onde a felicidade é qual raio de Beatitude Divina.



Importa servir a Nosso Senhor com alegria. Haverá algo de comparável a servi-lo com amor? E o amor produz alegria, dedicação. E nada é mais justo. Considerai sempre, por conseguinte, as inefáveis Bondades de Deus para convosco, sua Mão tão paternal, tão previdente, tão amável, até nos menores sacrifícios que vos pede. Vede a todas as coisas através do prisma divino, e tudo lhe revestirá o belo colorido! Lembrai-vos de que a tristeza natural mata corpo e espírito, e a tristeza espirítual, coração e piedade. Bem sei que há uma boa tristeza, mas nem eu a esta desejo. Prefiro ver-vos descansando no Coração de Jesus com São João, do que aos seus pés com Madalena.



Paz na confiança em Deus



Conservai, por favor, o coração e o espírito sempre ao alto, junto ao vosso bom Pai e Salvador. Quem voa não olha para os pés.



Nem sempre podemos ser felizes pelo sentimento; podemos, todavia, sê-lo pela vontade unida á de Deus.



Não descanseis, quanto ao estado da alma, nos frutos dos serviços prestados a Deus, menos ainda no sentimento do bem, porque tudo isso varia muito, e não contitui a verdade. Deveis estabelecer a vossa paz - atenção - na confiança em Deus, porque Deus é Bom e vos quer bem como a um filho.



Firmai, pois, a confiança de vida na sua Providência que vela a todo instante sobre vós. Tudo visa, em nome de Deus, cumprir uma missão de salvação junto a vós. Recebei, por conseguinte, todas as coisas como enviadas celestiais.



Firmai a confiança de vida na santa e amável Vontade de Deus, porque aquilo que Deus quer é sempre o mais conveniente para vós e o mais glorioso para ele.



Servi, pois, a Deus, em todos os estados de alma, e de corpo, em todos os deveres, com fidelidade sempre igual. Trabalhi no dia, e só par Deus. Cantai sem cessar o cântico de amor, já que Deus vos ama tanto, e vós não aspirais senão a amá-lo cada vez mais.



Firmai sobretudo a confiança no amor que Deus vos tem, Amor tão grande, tão constante, tão. paternal.



Entregai-vos a Deus de momento em momento



O santo abandono ao Amor de Deus produz na alma efeito igual ao amor do filho pela mãe, que o carrega e dele cuida. A criança dorme em paz no meio dos maiores perigos, porque nada tem a recear. Procedei da mesma forma. Tende sempre essa confiança infantil em nosso bom Pai que está no Céu; entregai-vos a ele de monmento em momento e dependei dele em todas as coisas. Deus não tem nem passado nem futuro, ele é sempre. Pois bem! Permanecei em seu Ser de Amor, em sua divina Providência atual, e confiai-lhe o futuro e o passado. Deixai-vos levar pela Bondade Divina, qual criança de um ano.



Sede indiferente a todas as coisas, amai só aquelas que Deus ama, e procurai só aquelas que são do seu bel-prazer. Quem dorme no regaço da divina Providência, dorme um sono tranqüilo, e quem é levado nas asas dessa amável Providência faz feliz viagem.



Confiai-vos a Nosso Senhor e à sua Providência toda paternal. Nada á de faltar, mormente na vida espiritual, a quem estiver bem unido ao nosso divino Esposo. Ao esposo cabe sustentar, defender e aperfeiçoar a esposa e cuidar dela.



Sob os raios do Amor Divino



Não vos afastei nunca de Jesus, o bom jesus de vosso coração. Seja qual for o tempo, sede sempre dele, pois o tempo é sempre belo para alma que vive sob os raios do Amor Divino.



E, afinal, que importa se agradamos a Nosso Senhor na doença ou na saúde, num estado de sensibilidade ou de fervor, de submissão ou de práticas piedosas, conquanto lhe agrade o que fazemos. O essencial é firmarmos na confiança em Deus, nutrir-nos de sua Verdade, dedicar-nos à sua Glória pelo nosso amor soberano, amando-o por toda parte e acima de tudo.



Observai bem esta lei do Amor Divino, de não querer senão o que Deus quer, como o quer e quando o quer. O santo abandono é o mais puro, é o maior amor.



Seja o amor a alma e o fundo de tudo, e quando dominar esse sentimento, deixai a tudo mais. Os meios são inúteis a quem já alcançou o fim.



Mas não deveis ignorar que o Amor Divino é insaciável como o fogo, e está sempre a pedir, fazendo sofrer enquanto consome tudo o quanto lhe é estranho.



Deixai-vos levar pelo bom Mestre



Guardai em paz a alma, a fim de atender aos impulsos interiores do Espírito Santo e lhe ser-lhes fiel.



E conservareis a alma em paz, colocando-a incessantemente em um estado generoso de tudo sofrer, de tudo deixar para cuidar de outra coisa, numa palavra, de contrariar a própria vontade, quando a Vontade de Deus vo-lo pedir.



É a nossa miserável vontade que nos irrita e nos contraria quando quer com demasiada energia, ou então é um sentimento de independência que teme demais o jugo santo da Cruz. Deixai-vos levar pelo Sopro da Graça do momento; a vela obediente só a essa brisa pode receber, pois todas as outras, se não vierem do alto, agitam-na.



A graça diz sempre paz e sacrifício, amor e zelo, dom e felicidade. Deixai-vos levar pelo bom Mestre, que vos leva aonde quer e pelo caminho que lhe agrada. É, aliás, sempre o melhor, embora o resultado não seja sempre patente.



Guardai sempre o coração unido ao Coração divino de Nosso Senhor, a fim de que o seu Amor se vos torne a vida, o princípio das ações, o centro do repouso.



Ide com alegria por toda partequando Deus o quiser, pois em toda parte está o Tabernáculo, o Céu, Deus, nosso Amor.



Sempre atenta à Vontade Divina



Nosso Senhor saudava os Apóstolos com as seguintes palavras; "A Paz esteja esteja convosco". Desejo-vos sinceramente essa paz, paz de confiança que se abandona filialmente a Deus e se confia tanto à sua Bondade como à sua Misericórdia.



Essa paz de consciência repousa primeiro na humildade, para suportar a própria miséria, e depois na simplicidade da obedi~encia, para obrar no espírito de Fé.



Não alcançareis essa paz de coração nem pela perturbação, nem pela inquietação, mas pelo abandono à sua divina Bondade e Misericórdia.



Ide ao encontro do bom Mestre, como a criança despida de mérito e de força, vai ao coração da mãe. Um ato de submissão e de abandono é superior a tudo quanto vos fosse possível fazer e vosso lugar querido deve ser junto ao divino Mestre, para vê-lo, ouvi-lo e sentir-vos perto dele.



Vivei de um Deus, de Nosso Senhor Eucarístico. De outro modo não podereis tornar-vos uma vítima de amor habitual. Observai com diligência a marcha da divina Providência em relação a vós. Deus faz tudo, organiza tudo, prevê tudo para vos levar a si. Não cuideis, pois, nem do passado, nem do futuro, mas do presente, atenta à Vontade de Divina do vosso bom Mestre, e ele vos levará pela mão através de todas as dificuldades, até a graça e à perfeição do seu Amor.



Lembrai-vos de que a água do riacho, do rio, aproxima-se do mar da eternidade. Nossa barquinha segue-lhe o curso, arvorando a bandeira celeste.



Renúncia a si mesmo



Todo o segredo da vida religiosa, e até da vida cristã, está neste pensamento: mortificação soberana pelo dever em primeiro lugar. É tudo. É a raiz da árvore, a seiva das virtudes e do verdadeiro amor a Deus.



Sem mortificação não há virtude



É princípio básico que sem mortificação não há virtude; sem espírito de mortificação não há progresso possível. Só chegamos à vida espiritual pela morte. A lenha que se torna carvão ardente deve sofrer, despojar-se de todo elemento estranho.



De fato, sem mortificação não haverá homens religiosos em verdade. Essas piedades de água de rosas, que descansam em sentimentos de alegria e de felicidade, assemelham-se a viagens em carros de luxo.



Não lhes tenho a menor fé nem confiança. É mister, pois, formar primeiro homens de virtude, isto é, de sacrifício. Afinal, Nosso Senhor estabeleceu as bases da perfeição evangélica: "Abneget semetipsum". Quem ama a liberdade, os confortos, a saudezinha, os pequenos privilégios, não pratica o abneget, e sim o amor de si mesmo.



Como chegar ao amor divino



Se não virtude sem mortificação, ainda menos haverá amor de Deus. A renúncia a si mesmo é a condição essencial, fundamental para amar a Deus. Vamos ao Amor Divino pela pureza do sacrifício do coração e da vontade, progredimos nesse santo Amor pela suave abnegação da vida e pela dependência contínua à sua Vontade sempre amável.



Nosso Senhor quer reinar em vós, por esse jugo contínuo da renúncia e quer que a piedade, as virtudes, o amor revistam em vós esse caráter universal. Bendizei-lhe por esse caminho, caminho rico que abrevia a marcha do deserto e oferece menos perigos. Deus é e deve ser para vós o sol de cada dia. Todos os dias levanta-se para vós, embora nem sempre do mesmo modo. Deveis amar sempre esse sol divino de justiça e de amor, quer surja radiante, quer surja velado por entre os ardores do verão, ou sujeito às influências dos gelos invernais. É sempre o mesmo Sol.



Tratai, por conseguinte, de não viver de esmolas de pessoas, de diretores, de livros, de imagens, nem mesmo de belos cânticos. Tudo isso é tão pobre em si, e se esgota rapidamente; Mas vivei de Nosso Senhor, em Nosso Senhor e por Nosso Senhor. " Quem permanece em mim e eu nele, fará grandes coisas", disse ele.



Permanecei, pois, em Nosso Senhor. Mas como? - Perguntais. Deixando-vos a vós mesmo.



Amai ternamente o divino Mestre e sofrei por amor a ele. Labutai nessa abnegação heróica da vontade, crente de que tudo quanto é feito com suave abnegação é infinitamente mais agradável a Deus do que qualquer outra ação, aparentemente mais perfeita. Lembrai-vos sempre de que as maiores Graças de Nosso Senhor, para a santificação da alma, encerram-se nas ocasiões de abnegação da própria vontade à Vontade de Deus, ou de outrém; e quando puderdes dizer: eu renunciei a mim mesmo, Nosso Senhor vos responderá: Fiseste, meu filho, um ato de perfeito amor.



Total esquecimento de si mesmo



Deixar-se, esquecer-se, renunciar-se, perder-se a si mesmo, é, ai de nós! Muito difícil. Nossa mísera natureza, caindo nas mãos de Jesus, está sempre a recear, e quer se agarrar aos abrolhos que se lhe deparam no caminho ou caem sob suas mãos.



Mas Nosso Senhor não se contenta com um dom pela metade. Ele quer o esquecimento total, o abandono absoluto de vós mesmo. Ele vos quer numa vida de abnegação e de pobreza espiritual, mas também em pleno abandono nas Mãos divinas, qual criança pequena. Todas as provações que vos tocam diariamente são as asas que vos envia para ajudar-vos a despojar o velho homem e vos entregar, em todo o vosso nada, a Jesus. Deijai-vos despojar, tudo arrancar, para poder pertencer inteiramente a Deus.



Guardai esse grande segredo da vida espiritual que vos confio: cortai a febre interiorpelo esquecimento de vós mesmo e ainda mais dos outros; ocupai-vos de Nosso Senhor e procurai agradar-lhe ao Coração, por todos os atrativos de suas Graças, por todas as jóias de seus Méritos, bem como os da Santíssima Virgem e dos Santos.



4 de maio de 2012

pensamentos de santo agostinho

Frases e Pensamentos de Santo Agostinho:







- "Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, pois você irá perder um amigo. Porém, se dois estranhos pedirem a mesma coisa, aceite, pois você irá ganhar um amigo."


- "Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que entendemos sobre a natureza."


- "Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz respeito a buscar o prazer e evitar a dor."


- "Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você."


- "Ter fé é acreditar nas coisas que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita."


- "A pessoa que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar."


- "A confissão das más ações é o passo inicial para a prática de boas ações."


- "A verdadeira medida do amor é não ter medida."


- "Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio."