10 de maio de 2012

Confiança e abandono




Deus ama-nos pessoalmente com um grande Amor de Benevolência, com um Amor infinito e eterno.



O Amor de Benevolência consiste em querer pura e exclusivamente o bem, e o melhor bem da pessoa amada.



Em Deus, o Amor de Benevolência é pessoal. Deus ama tal pessoa, ama cada um de nós, como estivessemos sós no mundo, porque o seu Amor é um e infinito.



Salários de amor divino



Todos os atributos de Deus estão à disposição do Amor de Benevolência que nos tem, a fim de nos santificar em seu Amor e em sua Graça, e poder comunicar-nos, na eternidade, sua Felicidade e Glória, porque o amor pede união, e a união, fim e triunfo do amor, constitui sociedade de bens e de vida. O amor não quer ser feliz a sós.



Os grandes atributos de Deus, que estão à disposição do Amor de Benevolência que ele tem à alma, são os seguintes:



A Sabedoria divina, que escolhe aquilo que melhor convém ao bem e ao estado atual da alma querida; a Prudência divina que aplica esses meios de santificação; o Poder divino, que nos ajuda, nos sustenta, nos defende; a Misericórdia divina, que dispõe sempre de um coração de mãe, para nos perdoar, nos levantar, pois a criança tem dois inimigos, isto é dois títulos à misericórdia: sua fraqueza e leviandade, sua tolice e presunção; a Providência divina, que combina todos os acontecimentos de tempo, de circunstâncias, em torno dessa alma querida, como o centro do movimento celeste e terrestre, a fim de que tudo lhe sirva para o seu fim sobrenatural.



É por isso que certas criaturas nos exercem a virtude e nos fazem sofrer, a fim de nos lembrar que estamos no exílio, no tempo de expiação, de amor crucificado com Jesus Cristo, nosso bom Salvador. Outras nos mostram o caminho durante algum tempo, e depois desaparecem, porque Deus substitui o Anjo Rafael, Moisés, Josué, . Outras são um espelho onde vemos refletidas nossas misérias (pelo menos possível) em relação ao mal e as más disposições de Adão. Outras são um livro de vida santa. Outras, pobres de Deus. Diz a Imitação que "não há criatura tão pequena e tão vil que não represente neste mundo a Bondade de Deus". não nos manifestam os próprios pecadores a Bondade de Deus, que lhes faz o bem até material, que os convida, os aguarda, pronto a perdoar?



É a Providência divina que não só nos coloca no caminho as criaturas que nos devem fazer exercer algum ato de virtude, como também determina, em sua Bondade Divina para com a alma, o estado do corpo, padecente ou são, porque é o regime indicado para o dia, a fim de glorificar a Deus deste ou daquele modo; é o boletim cotidiano assinado pela Providência divina.



Os estados naturais da alma, em se tratando das Graças que Deus dá e das obras que vai pedir, são também regidos por essa amável Providência, que ora dá mais vida ao espírito, ora ao coração, mas sempre à vontade, porque é a dona da casa, a serva de Deus.



Os estados espirituais da alma são sobretudo objeto da direção da divina Providência, porque são as verdadeiras condições de santificação.



Lei do dever



Daí se segue a grande lei de vida: devemos caminhar na direção do Sopro da Graça, devemos honrar a Deus pelos estados naturais e sobrenaturais, e nos servirmos de tudo o quanto a divina Providência nos oferece à passagem; devemos ver em tudo essa santa e amável Vontade em torno de nós e em nós, obrando sob sua direção, consultando sua inspiração, oferecendo-lhe a primeira intenção em tudo, prestando-lhe homenagem em qualquer imprevisto, em qualquer encontro, reconhecendo-a por toda a parte, supondo-a quando não a vemos nem ouvimos, pois gosta de se velar, gosta da obediência da fé e do amor de dedicação.



A conclusão segue-se:



O melhor estado para glorificar a Deus é o meu estado presente.



A melhor Graça é a Graça do momento. A lei do dever é aquela que o amor inspira e que o amor cumpre.



Guardai bem esta definição - é de Nosso Senhor discursando depois da Ceia: "AQmo o meu Pai, cumpro a sua Vontade e permaneço em seu Amor".



Ah! Permanecei no Amor de Deus, ou antes permanecei em sua Bondade, pois querer permanecer no Amor, suscitaria inúmeras tentações. Amo-o eu?



Ama-me Ele?



Permanecei pois na casa da Bondade divina e paterna de Deus qual criança que nada sabe, nada faz, tudo estraga, mas vive nessa doce Bondade.



Dai a mão a Deus



Aplicai-vos a ver em vós, em torno de vós, dentro de vós, essa Vontade de Amor de Deus que se ocupa de vós como se mais ninguém houvesse neste mundo. Adorai as razões de sua Providência divina, sempre sábia e amável. Ide a Nosso Senhor sem corpo, sem alma - deixai tudo isso na entrada, como servos - e conservai-vos sempre unida pela vontade a seu Amor. Caminhai simplismente, passo a passo, vossa mão na mão de Deus, qual cega, comendo o pão que ele vos der, qual verdadeira mendiga, vivendo de sua Graça atual, e encontrareis sempre boa pousada, boa família, boa mesa preparada pela divina Providência.



Recebei sempre com alegria e amor os bens de Deus. Notai de preferência sua Bondade, e não vossa malícia, suas Graças, e não vossos pecados, seus Benefícios, e não vossos pesares, sua Força, e não vossa fraqueza, seu Amor, e não vossa tibieza. Então, apegar-vos-ei pelo coração e pela vida a essa Bondade amável e incessante.



Vivei de gratidão, como o pobre. Esquecei vossas misérias, vossos próprios pecados, para viver um pouco como no Céu, onde há louvor e agradecimentos; onde o amor pela Santíssima Trindade é sempre novo e mais perfeito; onde os pecados são vistos somente por meio da Misericórdia de Deus, as obras por meio da sua Graça, onde a felicidade é qual raio de Beatitude Divina.



Importa servir a Nosso Senhor com alegria. Haverá algo de comparável a servi-lo com amor? E o amor produz alegria, dedicação. E nada é mais justo. Considerai sempre, por conseguinte, as inefáveis Bondades de Deus para convosco, sua Mão tão paternal, tão previdente, tão amável, até nos menores sacrifícios que vos pede. Vede a todas as coisas através do prisma divino, e tudo lhe revestirá o belo colorido! Lembrai-vos de que a tristeza natural mata corpo e espírito, e a tristeza espirítual, coração e piedade. Bem sei que há uma boa tristeza, mas nem eu a esta desejo. Prefiro ver-vos descansando no Coração de Jesus com São João, do que aos seus pés com Madalena.



Paz na confiança em Deus



Conservai, por favor, o coração e o espírito sempre ao alto, junto ao vosso bom Pai e Salvador. Quem voa não olha para os pés.



Nem sempre podemos ser felizes pelo sentimento; podemos, todavia, sê-lo pela vontade unida á de Deus.



Não descanseis, quanto ao estado da alma, nos frutos dos serviços prestados a Deus, menos ainda no sentimento do bem, porque tudo isso varia muito, e não contitui a verdade. Deveis estabelecer a vossa paz - atenção - na confiança em Deus, porque Deus é Bom e vos quer bem como a um filho.



Firmai, pois, a confiança de vida na sua Providência que vela a todo instante sobre vós. Tudo visa, em nome de Deus, cumprir uma missão de salvação junto a vós. Recebei, por conseguinte, todas as coisas como enviadas celestiais.



Firmai a confiança de vida na santa e amável Vontade de Deus, porque aquilo que Deus quer é sempre o mais conveniente para vós e o mais glorioso para ele.



Servi, pois, a Deus, em todos os estados de alma, e de corpo, em todos os deveres, com fidelidade sempre igual. Trabalhi no dia, e só par Deus. Cantai sem cessar o cântico de amor, já que Deus vos ama tanto, e vós não aspirais senão a amá-lo cada vez mais.



Firmai sobretudo a confiança no amor que Deus vos tem, Amor tão grande, tão constante, tão. paternal.



Entregai-vos a Deus de momento em momento



O santo abandono ao Amor de Deus produz na alma efeito igual ao amor do filho pela mãe, que o carrega e dele cuida. A criança dorme em paz no meio dos maiores perigos, porque nada tem a recear. Procedei da mesma forma. Tende sempre essa confiança infantil em nosso bom Pai que está no Céu; entregai-vos a ele de monmento em momento e dependei dele em todas as coisas. Deus não tem nem passado nem futuro, ele é sempre. Pois bem! Permanecei em seu Ser de Amor, em sua divina Providência atual, e confiai-lhe o futuro e o passado. Deixai-vos levar pela Bondade Divina, qual criança de um ano.



Sede indiferente a todas as coisas, amai só aquelas que Deus ama, e procurai só aquelas que são do seu bel-prazer. Quem dorme no regaço da divina Providência, dorme um sono tranqüilo, e quem é levado nas asas dessa amável Providência faz feliz viagem.



Confiai-vos a Nosso Senhor e à sua Providência toda paternal. Nada á de faltar, mormente na vida espiritual, a quem estiver bem unido ao nosso divino Esposo. Ao esposo cabe sustentar, defender e aperfeiçoar a esposa e cuidar dela.



Sob os raios do Amor Divino



Não vos afastei nunca de Jesus, o bom jesus de vosso coração. Seja qual for o tempo, sede sempre dele, pois o tempo é sempre belo para alma que vive sob os raios do Amor Divino.



E, afinal, que importa se agradamos a Nosso Senhor na doença ou na saúde, num estado de sensibilidade ou de fervor, de submissão ou de práticas piedosas, conquanto lhe agrade o que fazemos. O essencial é firmarmos na confiança em Deus, nutrir-nos de sua Verdade, dedicar-nos à sua Glória pelo nosso amor soberano, amando-o por toda parte e acima de tudo.



Observai bem esta lei do Amor Divino, de não querer senão o que Deus quer, como o quer e quando o quer. O santo abandono é o mais puro, é o maior amor.



Seja o amor a alma e o fundo de tudo, e quando dominar esse sentimento, deixai a tudo mais. Os meios são inúteis a quem já alcançou o fim.



Mas não deveis ignorar que o Amor Divino é insaciável como o fogo, e está sempre a pedir, fazendo sofrer enquanto consome tudo o quanto lhe é estranho.



Deixai-vos levar pelo bom Mestre



Guardai em paz a alma, a fim de atender aos impulsos interiores do Espírito Santo e lhe ser-lhes fiel.



E conservareis a alma em paz, colocando-a incessantemente em um estado generoso de tudo sofrer, de tudo deixar para cuidar de outra coisa, numa palavra, de contrariar a própria vontade, quando a Vontade de Deus vo-lo pedir.



É a nossa miserável vontade que nos irrita e nos contraria quando quer com demasiada energia, ou então é um sentimento de independência que teme demais o jugo santo da Cruz. Deixai-vos levar pelo Sopro da Graça do momento; a vela obediente só a essa brisa pode receber, pois todas as outras, se não vierem do alto, agitam-na.



A graça diz sempre paz e sacrifício, amor e zelo, dom e felicidade. Deixai-vos levar pelo bom Mestre, que vos leva aonde quer e pelo caminho que lhe agrada. É, aliás, sempre o melhor, embora o resultado não seja sempre patente.



Guardai sempre o coração unido ao Coração divino de Nosso Senhor, a fim de que o seu Amor se vos torne a vida, o princípio das ações, o centro do repouso.



Ide com alegria por toda partequando Deus o quiser, pois em toda parte está o Tabernáculo, o Céu, Deus, nosso Amor.



Sempre atenta à Vontade Divina



Nosso Senhor saudava os Apóstolos com as seguintes palavras; "A Paz esteja esteja convosco". Desejo-vos sinceramente essa paz, paz de confiança que se abandona filialmente a Deus e se confia tanto à sua Bondade como à sua Misericórdia.



Essa paz de consciência repousa primeiro na humildade, para suportar a própria miséria, e depois na simplicidade da obedi~encia, para obrar no espírito de Fé.



Não alcançareis essa paz de coração nem pela perturbação, nem pela inquietação, mas pelo abandono à sua divina Bondade e Misericórdia.



Ide ao encontro do bom Mestre, como a criança despida de mérito e de força, vai ao coração da mãe. Um ato de submissão e de abandono é superior a tudo quanto vos fosse possível fazer e vosso lugar querido deve ser junto ao divino Mestre, para vê-lo, ouvi-lo e sentir-vos perto dele.



Vivei de um Deus, de Nosso Senhor Eucarístico. De outro modo não podereis tornar-vos uma vítima de amor habitual. Observai com diligência a marcha da divina Providência em relação a vós. Deus faz tudo, organiza tudo, prevê tudo para vos levar a si. Não cuideis, pois, nem do passado, nem do futuro, mas do presente, atenta à Vontade de Divina do vosso bom Mestre, e ele vos levará pela mão através de todas as dificuldades, até a graça e à perfeição do seu Amor.



Lembrai-vos de que a água do riacho, do rio, aproxima-se do mar da eternidade. Nossa barquinha segue-lhe o curso, arvorando a bandeira celeste.



Renúncia a si mesmo



Todo o segredo da vida religiosa, e até da vida cristã, está neste pensamento: mortificação soberana pelo dever em primeiro lugar. É tudo. É a raiz da árvore, a seiva das virtudes e do verdadeiro amor a Deus.



Sem mortificação não há virtude



É princípio básico que sem mortificação não há virtude; sem espírito de mortificação não há progresso possível. Só chegamos à vida espiritual pela morte. A lenha que se torna carvão ardente deve sofrer, despojar-se de todo elemento estranho.



De fato, sem mortificação não haverá homens religiosos em verdade. Essas piedades de água de rosas, que descansam em sentimentos de alegria e de felicidade, assemelham-se a viagens em carros de luxo.



Não lhes tenho a menor fé nem confiança. É mister, pois, formar primeiro homens de virtude, isto é, de sacrifício. Afinal, Nosso Senhor estabeleceu as bases da perfeição evangélica: "Abneget semetipsum". Quem ama a liberdade, os confortos, a saudezinha, os pequenos privilégios, não pratica o abneget, e sim o amor de si mesmo.



Como chegar ao amor divino



Se não virtude sem mortificação, ainda menos haverá amor de Deus. A renúncia a si mesmo é a condição essencial, fundamental para amar a Deus. Vamos ao Amor Divino pela pureza do sacrifício do coração e da vontade, progredimos nesse santo Amor pela suave abnegação da vida e pela dependência contínua à sua Vontade sempre amável.



Nosso Senhor quer reinar em vós, por esse jugo contínuo da renúncia e quer que a piedade, as virtudes, o amor revistam em vós esse caráter universal. Bendizei-lhe por esse caminho, caminho rico que abrevia a marcha do deserto e oferece menos perigos. Deus é e deve ser para vós o sol de cada dia. Todos os dias levanta-se para vós, embora nem sempre do mesmo modo. Deveis amar sempre esse sol divino de justiça e de amor, quer surja radiante, quer surja velado por entre os ardores do verão, ou sujeito às influências dos gelos invernais. É sempre o mesmo Sol.



Tratai, por conseguinte, de não viver de esmolas de pessoas, de diretores, de livros, de imagens, nem mesmo de belos cânticos. Tudo isso é tão pobre em si, e se esgota rapidamente; Mas vivei de Nosso Senhor, em Nosso Senhor e por Nosso Senhor. " Quem permanece em mim e eu nele, fará grandes coisas", disse ele.



Permanecei, pois, em Nosso Senhor. Mas como? - Perguntais. Deixando-vos a vós mesmo.



Amai ternamente o divino Mestre e sofrei por amor a ele. Labutai nessa abnegação heróica da vontade, crente de que tudo quanto é feito com suave abnegação é infinitamente mais agradável a Deus do que qualquer outra ação, aparentemente mais perfeita. Lembrai-vos sempre de que as maiores Graças de Nosso Senhor, para a santificação da alma, encerram-se nas ocasiões de abnegação da própria vontade à Vontade de Deus, ou de outrém; e quando puderdes dizer: eu renunciei a mim mesmo, Nosso Senhor vos responderá: Fiseste, meu filho, um ato de perfeito amor.



Total esquecimento de si mesmo



Deixar-se, esquecer-se, renunciar-se, perder-se a si mesmo, é, ai de nós! Muito difícil. Nossa mísera natureza, caindo nas mãos de Jesus, está sempre a recear, e quer se agarrar aos abrolhos que se lhe deparam no caminho ou caem sob suas mãos.



Mas Nosso Senhor não se contenta com um dom pela metade. Ele quer o esquecimento total, o abandono absoluto de vós mesmo. Ele vos quer numa vida de abnegação e de pobreza espiritual, mas também em pleno abandono nas Mãos divinas, qual criança pequena. Todas as provações que vos tocam diariamente são as asas que vos envia para ajudar-vos a despojar o velho homem e vos entregar, em todo o vosso nada, a Jesus. Deijai-vos despojar, tudo arrancar, para poder pertencer inteiramente a Deus.



Guardai esse grande segredo da vida espiritual que vos confio: cortai a febre interiorpelo esquecimento de vós mesmo e ainda mais dos outros; ocupai-vos de Nosso Senhor e procurai agradar-lhe ao Coração, por todos os atrativos de suas Graças, por todas as jóias de seus Méritos, bem como os da Santíssima Virgem e dos Santos.



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