«A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum» [Act 4, 32]. (1)
Esta Palavra apresenta um da-queles quadros literários (vedi também 2, 42; 5, 12-16), nos quais o autor dos Actos dos Apóstolos nos faz conhecer, em linhas gerais, a primeira comunidade cristã de Jerusalém. Esta era caracterizada por uma extraordinária frescura e dinamismo espiritual, pela oração e pelo testemunho, mas, sobretudo, por uma grande unidade: o sinal que Jesus indicara como distintivo inconfundível e fonte da fecundidade da sua Igreja.
O Espírito Santo era concedido no Baptismo a todos os que recebiam a Palavra de Jesus. Sendo espírito de amor e de unidade, fazia de todos os crentes uma coisa só com o Ressuscitado e entre eles, ultrapassando todas as diferenças de raças, de culturas e de classes sociais.
«A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum».
Mas vejamos mais detalhadamente os aspectos desta unidade.
Em primeiro lugar, o Espírito Santo realizava entre os crentes a unidade dos corações e do pensamento, ajudando-os a vencer todos os sentimentos que a dificultam, na dinâmica da comunhão fraterna.
De facto, o maior obstáculo à unidade é o nosso individualismo e o apego às nossas ideias, aos pontos de vista e gostos pessoais. É com o nosso egoísmo que se constroem as barreiras com que nos isolamos e excluímos aqueles que são diferentes de nós.
«A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum».
Além disso, a unidade realizada pelo Espírito Santo reflectia-se necessariamente na vida dos crentes. A unidade de pensamento e de coração encarnava-se e exprimia-se numa solidariedade concreta, mediante a partilha dos próprios bens com os irmãos e as irmãs que passavam necessidades. Justamente porque era autêntica, não tolerava que na comunidade alguns vivessem na abundância, enquanto faltava o necessário a outros.
«A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum».
Como podemos viver a Palavra de Vida deste mês? Ela sublinha a comunhão e a unidade, tão recomendadas por Jesus. Para as podermos realizar, Ele deu-nos o seu Espírito.
Se ouvirmos a voz do Espírito Santo, procuraremos, portanto, crescer nesta comunhão a todos os níveis. Antes de mais, a nível espiritual, vencendo as sementes de divisão que trazemos dentro de nós. Seria, por exemplo, um contra-senso querermos estar unidos a Jesus e, ao mesmo tempo, estarmos divididos entre nós, comportando-nos de uma forma individualista, indo cada um por sua conta, julgando-nos ou até excluindo-nos uns aos outros. É preciso, portanto, uma renovada conversão a Deus que nos quer unidos.
Por outro lado, esta Palavra ajudar-nos-á a compreender cada vez melhor a contradição que existe entre a fé cristã e o uso egoístico dos bens materiais. Ajudar-nos-á a realizar uma verdadeira solidariedade com todos aqueles que passam necessidades, embora dentro das nossas possibilidades.
Além disso, sendo este o mês em que se celebra a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, esta Palavra impulsionar-nos-á a rezar e a reforçar os nossos laços de unidade, de amor e de comunhão com os nossos irmãos e irmãs pertencentes às várias Igrejas, com quem temos em comum a única fé e o único espírito de Cristo, recebido no Baptismo.
Chiara Lubich
_______________________
1) Palavra de Vida, Janeiro de 1994, publicada em Città Nuova, 1993/24, pp. 34-35
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário