Semanário Católico da Guarda
SECÇÃO: Liturgia
Foi para a Liberdade que Cristo nos libertou
Ao lermos a máxima: “Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou”, escrita na primeira frase da epístola de hoje, ficamos perplexos, pois supúnhamos estar sob o jugo das normas do Evangelho, obrigados a cumprir a sua Lei e a afastar-nos dos comportamentos corrompidos para os quais tendemos.
Ora a liberdade retratada pelo Apóstolo não aparece no conceito usualmente anotado por nós. É a liberdade verdadeira para a qual Cristo nos libertou. A ideia vem do resgate dos escravos daquele tempo, quando se lhes entregava a carta de alforria, geralmente paga por um benfeitor. Aliás esta ideia palpita muitas vezes nas cartas de S. Paulo, nas quais afirma termos sido libertados do mal pelo sangue de Cristo que pagou a Deus Pai o preço da nossa redenção, não para podermos escolher o pecado, mas para nos arrancar ao seu domínio. Pagar com a sua cruz a libertação do mal ou de práticas já ab-rogadas, como era o caso da circuncisão, para que os discípulos continuassem com o dever de as praticar seria um contra-senso. Daqui, o conselho de permanecerem firmes na nova fé e não se sujeitarem de novo ao seu domínio.
Aparece, no entanto, já prevendo o não entendimento de tais expressões, o aviso aos discípulos, pois, novos como eram na religião cristã, poderiam não divisar ser o cristianismo, libertação do jugo mosaico: “Não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne”.
A nova Lei já não é a de Moisés. Há um mandamento novo que se resume na caridade. Esta torna-nos servidores uns dos outros e não permitirá ao instinto, inclinar-se para o que há de mais baixo, no nosso amor próprio e no nosso egoísmo.
Há uma incompatibilidade absoluta entre as obras da carne e as tendências do espírito. Como se vê mais adiante, o Apóstolo demarcará vigorosamente os princípios: “Os que são de Cristo Jesus crucificaram sua carne com seus vícios e concupiscências”.
Assim, como vivemos pelo Espírito de Cristo, teremos de nos deixar conduzir por Ele.
Necessário se torna, por isso, o combate espiritual já anunciado pelo grande Mestre: “Não penseis que vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz mas a espada. Porque vim separar o filho do pai, a filha de sua mãe e a nora da sogra; de tal modo que os inimigos do homem serão os seus familiares”.
Perante os princípios antagónicos anotados nesta epístola: “a carne que tem desejos contrários aos do Espírito e o Espírito desejos contrários aos da carne” há que escolher: ou a favor de Deus e da nossa salvação, ou a favor do maligno, princípio do castigo eterno.
A condição da nossa existência espiritual é uma luta renhida e porfiada, onde se joga a destreza habilidosa do homem livre, não condicionado senão pela verdade.
“A verdade vos libertará” é a sentença de Jesus, no Evangelho. Seria lamentável corrermos atrás da mentira tão prejudicial à nossa existência presente e futura, tanto mais ter a vitória um preço incalculável e valioso: a paixão e morte de Deus feito homem. À liberdade triunfante na cruz não pode suceder
26 de junho de 2010
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