16 de janeiro de 2012

MOMENTOS DE INTIMIDADE




"Conduzirei a alma dileta à solidão e ali lhe falarei ao coração" (Os 2,14 - Vulg.), diz o Espírito Santo. E que lhe dirá Jesus? Começará por lhe mostrar a sua Vontade em relação à sua alma, para depois atrair-la a si. E nisto temos as duas maiores provas de amor que Jesus possa dar a uma alma.
I
Não há coisa mais importante, ou mais urgente para mim, do que conhecer a vocação de Graça em que Deus me quer, já que disto depende minha salvação, minha perfeição, minha perseverança final - numa palavra - minha eternidade.
Ora, é no retiro que Deus me manifestará clara, suave e fortemente a sua Vontade adorável e sempre amável. E a prova disto, sinto-a no meu íntimo, porquanto que há muito que Ele me atrai e me convida a um recolhimento maior e a idéia do retiro por toda parte me acompanha. É Deus que me quer falar, mas só o fará a sós comigo. Ah! meu Deus, deixo então tudo, negócios, estudos, parentes, amigos, família e chego-me aos vossos pés para ouvir e meditar a vossa Palavra divina.
Venho me pôr, com São Paulo, inteiramente à disposição da vossa Vontade e dizer-vos com ele, com toda sinceridade: "Senhor, que quereis Vós que eu faça?"
(at 9,6), ou com Davi: " Meu coração está pronto, Senhor, meu coração está pronto!" (Sal 56,8).
Nas provações espirituais
Entre os sofrimentos que enchem a vida, e que concorrem para que não nos apeguemos a ela, senão como meio de nos levar ao Céu, há alguns que são especialmente penosos: são as provações espirituais. Tristeza de coração, de consciência e de devoção, eis o pão cotidiano das almas: que querem ficar a sós com Cristo em Deus.
Ora, quem quiser seguir uma vereda mais interior, por meio da oração e de uma vida mais escondida com Deus, deve contar com epetidos sofrimentos interiores. A alma, tornando-se mais delicada, sente vivamente a ausência sensível de Deus, e Deus, tornando-se mais íntimo e mais amigo da alma, faz-lhe logo perceber as infidelidades, a fim de chamá-la novamente ao dever.
Delicadezas da amizade
E Deus também, muitas vezes, reserva-se esse segredo para conservar a alma no mistério da obediência e na imolação plena da razão. A alma purifica-se nesse estado cruciante de tudo quanto nela é demasiado natural. Então a paz interior da consciência já não repousa em atos, ou no testemunho interior da consciência, mas no ato de fé à obediência cega.
Nem convém, tampouco, que o caminho da terra da promissão seja demasiadamente belo e agradável para que não nos apeguemos ao deserto e ao caminho.
Nosso Senhor ama-nos demais para deixar-nos encontrar felicidade fora dele e sem ele. A existência seria natural demais, se nos fosse dado a simpatia da vida.
Deixai, pois, Nosso Senhor operar, e segui-o com reconhecimento.
O soldado revela-se no campo de batalha, o gênio na obra, a verdadeira piedade na provação.
Quisesse eu a vossa alma de modo natural, e pediria ardentemente a Deus que vos afastasse todas as cruzes e tristezas, e que vos fizesse sair sair de vós mesmo; não posso, porém, maldizer o vento propício que dirige a vela ao porto abençoado de Deus; o navio, embora mais agitado, vai mais célere.
Calma e paciência
Em momentos de provações, de sofrimentos, de tentações, de revolta, de irritação, entregai cuidadosamente a alma à Virgem Santíssima, vossa Mãe. a Jesus vosso doce salvador. Basta isso, repetindo com o profeta: " Senhor, sofro violência, respondei por mim". Aplicai-vos como única consolação humana, ao silêncio que vos diz respeito, à doçura exterior, a fim de prender os inimigos, e ide sempre para frente, pois ninguém examina o fogo, foge dele.
Tomai cuidadosamente o coração nas duas mãos, a fim de guardá-lo na paz do Senhor, mas pode a paz na guerra, na pobreza, na paciência em suportar a pobreza espiritual.
Fazei ,ais ainda, e agradecei a Deus com amor, porque ele quer provar-vos a Fé, purificai-vos a caridade, aperfeiçoar-vos a confiança, forçar-vos a permanecer nele, e não nos meios. Amai o sofrimento que Deus vos envia, mas nele não demoreis, e sim na paciência, na submissão, na oferta, no abandono que são as virtudes do estado padecente.

Mauro

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