21 de maio de 2011

BEATIFICAÇÃO DA IRMÃ CLARA DO MENINO JESUS

Homilia de D. António Montes na vigília da beatificação da Irmã Clara do Menino Jesus
1. Bendito seja Deus, admirável nos seus santos!

A nossa vigília desta noite – neste lugar emblemático da gesta missionária portuguesa na qual as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição participaram de maneira significativa – a nossa vigília é, em primeiro lugar, uma celebração de louvor e acção de graças pela santidade de Deus, presente e actuante na Irmã Maria Clara do Menino Jesus a partir da consagração do baptismo e vivida, mediante a radicalidade da profissão religiosa, na plena entrega ao Senhor e no serviço do próximo especialmente dos mais pobres e desvalidos.

Na vida de Mãe Clara os dois termos “cristã” e “santa” tornaram-se sinónimos. Esta deve (devia) ser a “normalidade” da vida cristã – a “medida alta” da vida cristã ordinária, como recomendou o Beato João Paulo II na sua exortação no início do novo milénio.

A vida de santidade não resulta do mero querer humano: é deixar que Deus actue em nós, dispondo-nos a colaborar com a graça divina, “com o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo”, conforme ensina S. Paulo na carta aos cristãos de Roma (Rm 5, 5).

Foi isso que fez Mãe Clara. Deixou-se moldar pela santidade de Deus. Por isso, louvamos e damos graças a Deus.

2. Esta vigília de oração é também oportunidade para evocar e agradecer a maravilhosa gesta de caridade da Irmã Maria Clara e de suas filhas espirituais ao longo de século e meio e em quatro continentes, concretizando no quotidiano da vida a divisa da Congregação: Lucere et fovere. Alumiar e aquecer, no passado, no tempo da Fundadora, e no presente. Iluminar o espírito de crianças e jovens a abrir para as grandes opções da vida. Aconchegar a existência de doentes e idosos, tantas vezes fragilizados por circunstâncias adversas.

A intervenção de Mãe Clara em diferentes domínios da área social não era simples acção social. Procedia duma motivação religiosa. O seu coração de mulher franciscana enchia-se de compaixão diante do sofrimento humano e procurava aliviá-lo com o vigor da sua fé. A sua actuação aparecia como “rosto da ternura e da misericórdia de Deus”.

A acção social da Irmã Maria Clara constituiu exemplificação antecipada duma anotação do Concílio Vaticano II na constituição Lumen gentium a propósito do chamamento à santidade de todos os baptizados: “Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano” (LG 40).

3. Finalmente, ao propor a Irmã Maria Clara como modelo de vida cristã e intercessora junto de Deus, a sua beatificação constitui uma interpelação para todos nós. Não se trata apenas de acontecimento relevante e de festa para a sua família religiosa. É um convite à santidade dirigido a todos os cristãos, particularmente os da sua diocese de Lisboa, na linha da anotação do concílio Vaticano II também na constituição Lumen gentium: “É pela caridade para com Deus e o próximo que se concretiza o verdadeiro discípulo de Cristo” (LG 42).

E termino com o estribilho final de cada capítulo das Florinhas de S. Francisco de Assis: “À glória de Cristo. Amém”.

Lisboa, igreja dos Jerónimos, 20.05.2011
D. António Montes Moreira, O.F.M., Bispo de Bragança-Miranda

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