30 de julho de 2010
TEREMOS O DIREITO DE ESTAR FELIZES QUANDO OUTRAS PESSOAS SOFREM?
Aprofundar a palavra
Teremos o direito de estar felizes quando outras pessoas sofrem?
O sopro de Deus em nós é alegria profunda. Quando estamos felizes, estamos em harmonia com Deus. Mas, quando há outras pessoas a sofrer, a nossa felicidade não está em sintonia com o seu sofrimento. É por isso que o apóstolo Paulo escreve: sim, «alegrai-vos com os que se alegram», mas também «chorai com os que choram» (Romanos 12,15). Nós fomos feitos para a alegria. Mas, quando confrontados com o sofrimento dos outros, é com o choro que somos verdadeiros.
A alegria pode magoar aqueles que dela são excluídos. A satisfação de alguém que teve sucesso magoa aqueles que falharam. O júbilo daqueles que se amam pode ser pesado para aqueles que foram abandonados. Quando aqueles que estão felizes me fazem sentir um prazer malicioso por estarem melhor do que eu, a sua felicidade torna-se insuportável. A felicidade de alguém pode magoar-nos, mesmo sem ser mal intencionada: numa parábola, Jesus fala-nos da felicidade de um homem rico que vivia «feliz no seu esplendor» e que nem sequer reparava no pobre homem Lázaro à sua porta (Lucas 16,19-21).
É preferível chorar a ter uma alegria desse género. Mas como pode Paulo escrever: «Alegrai-vos sempre» (Filipenses 4,5)? Se existem formas de felicidade que magoam os outros, também existem tipos de tristeza que ferem. Quando estou triste ou deprimido, não quero que os meus amigos me sobrecarreguem com mais tristeza, acrescentado a sua escuridão à minha desgraça. Então, o que devemos fazer quando os outros sofrem? Permanecer alegres e correr o risco de magoar com a nossa felicidade aqueles que ficaram de fora? Ou, por outro lado, ficar tristes e correr o risco de aumentar as suas mágoas, que já são tão difíceis de suportar.
«Alegrai-vos sempre.» Paulo continua: «Que a vossa bondade seja conhecida por todos» (Filipenses 4,5). A felicidade de que ele fala irradia bondade e gentileza. É, acima de tudo, uma felicidade interior. Às vezes, é quase imperceptível e nenhum sinal exterior a denuncia. Tem um toque delicado. Tal como no frio do Inverno sabe bem estar perto de uma fonte que irradie calor, também na desgraça sabe bem estar perto de alguém cuja alegria interior irradie bondade.
Qual é então o segredo de uma felicidade que não ofende, mas que, por outro lado, alegra aqueles que estão a sofrer? A resposta reside numa alegria de alguém que é pobre: uma felicidade que não é tomada como sua, possessiva, mas que quer sempre ser partilhada.
Recusar ser feliz quando os outros sofrem pode originar desespero mútuo. Temos coisas melhores a fazer pelos que estão sujeitos à desgraça. Uma das coisas mais preciosas que podemos oferecer é a nossa luta oculta para manter viva a alegria do Espírito Santo, a alegria que irradia bondade e comunica força e coragem.
TAIZÉ
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