15 de julho de 2010

MARTA E MARIA (Lc 10 )

Vejamos a atitude de Marta quando disse: Senhor, não te preocupa que a minha irmã..... Há geralmente uma certa tendência dos crentes tipo Marta julgarem que o seu trabalho é o mais importante. Marta não compreendeu a atitude de Maria e tentou converter Maria à sua mentalidade, pois para ela, só o trabalho material é que contava.

Marta é o tipo de crente que dá nas vistas... poderá ser até o presbítero ou o pastor que é responsável por isto e por aquilo e mais aquilo, é o “crente indispensável” que acumula todos os cargos possíveis, que corre para cá e para lá e nunca tem tempo para nada, nem mesmo para orar...

Muitas vezes, não tanto por culpa dele próprio, mas as circunstâncias e a falta de colaboração dos outros, podem transformar-nos em Martas, acumulando-nos com responsabilidades a ponto de nos roubar o tempo para estar a sós com o Mestre e compreender as suas prioridades.

Quantas pessoas há nas igrejas, que apresentam trabalho eficiente e útil sob o aspecto material, mas que são incapazes de dirigir uma oração ao Senhor.

Situação bem triste, pois afinal, toda a Igreja beneficia do trabalho desse tipo de crentes continuando eles próprios em pobreza espiritual por falta de tempo para estar com Jesus.

Esta passagem mostra, que não é só o pecado que nos pode afastar de Jesus.

Muitas vezes, pode acontecer-nos como aconteceu a Marta em que foram os próprios trabalhos que ela fazia para Jesus, que a impediram de estar com o Mestre.


Mas qual será o significado da afirmação de Jesus de que Uma só coisa é necessária?

Será que as outras coisas não eram necessárias?

Penso que Jesus, com essa expressão, queria realçar a suprema necessidade da proclamação do Evangelho.

Há muitas coisas que são boas.... e são lícitas: A saúde, o dinheiro, a posição social, a prosperidade, tudo isso é bom e é lícito. Não há mal nenhum nisso.

Mas, há muitos que vivem sem ter saúde, sem ter o dinheiro necessário e sem terem uma vida próspera.


Não devemos ser indiferentes a essas necessidades, mas o que não podemos é considerá-las prioritárias em relação à pregação do Evangelho.

A Graça de Deus e a salvação de Jesus é a maior prioridade.

A princípio isto pode levantar algumas dúvidas, mas à medida que os anos vão passando, por mais que se faça, os cabelos brancos aparecem, a saúde vai enfraquecendo, o dinheiro acaba-se, ou pelo menos diminui, a posição social também se acaba quando chegamos à idade da reforma e quando já velhos, não podemos trabalhar, não podemos pensar em prosperidade, mas a salvação de Jesus, essa nunca acaba.

Não será essa a única coisa necessária? As outras são lícitas, mas são secundárias. A salvação de Jesus é a única coisa que é prioritária.

Há um ditado popular que diz que nada levaremos deste mundo,.... mas penso que não é verdade.

A salvação de Jesus, essa permanece para sempre. Essa levaremos connosco, pois foi o Mestre que assim o prometeu.

Podemos dizer que ambas as actividades, de Maria e de Marta, são necessárias, mas se queremos ser crentes conscientes, crentes adultos espiritualmente, crentes úteis à igreja, temos de nos preocupar com ambas as actividades, mas, como já dissemos, há uma sequência que é muito importante:

Primeiro devemos acompanhar Maria, devemos sentar-nos aos pés de Jesus, para ouvir o Mestre, pois sem ele, nada de útil poderemos fazer.

O mal de Marta, não foi o facto de trabalhar para Jesus, mas o facto de ter tentado ser útil sem primeiro tentar compreender o que o Mestre queria dela.

Trabalhar para Jesus sem primeiro o ouvir, apesar de toda a nossa boa vontade, levar-nos-à a servi-lo de acordo com os métodos deste mundo, que nem sempre são válidos para glória de Deus.

Há uma diferença básica entre a visão do homem secularizado e a visão do crente.



O homem secularizado, o homem do nosso tempo, regula-se pelo que se chama a deificação da mente humana, pois em última instância, é o seu raciocínio que decide o que deve fazer. Embora possa ponderar toda a informação que lhe chega, do que aprendeu, da mensagem de Jesus e da sua experiência, as instruções do Mestre estão em pé de igualdade com muita outra informação e é somente o seu raciocínio que decide o que fazer.

O crente, não pode, nem deve de maneira alguma, prescindir do seu raciocínio, pois este não só, é criação do Senhor, como a própria Bíblia nos incentiva a servir ao Senhor com todo o nosso coração, toda a nossa alma, todas as nossas forças e todo o nosso entendimento.

Mas o homem natural necessita dum novo nascimento, duma nova maneira de pensar, pelo que primeiro temos de compreender o pensamento de Jesus, para podermos actuar em sintonia com os seus pensamentos, para podermos falar como ele deseja e como ele falaria se estivesse fisicamente presente. Temos de nos tornar.... mais parecidos com Jesus, se queremos ajudar a construir uma Comunidade com base bíblica

Para terminar, podemos dizer que a mentalidade de Marta continua bem viva nos nossos dias, sempre que nos preocupamos demasiado com o que Deus quer fazer por nós, quer fazer por nosso intermédio, julgando-nos preparados para o servir e ignoramos o muito que Deus tem de fazer previamente em nós, para que possamos ter alguma utilidade na sua obra.

Espero que não me levem a mal, se lhes disser que,.... o que Deus quer fazer em nós, deve ser sempre muito mais importante do que aquilo Deus quer fazer por nosso intermédio.

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