6 de abril de 2010

QUEM ÉS TU, Ó CRISTO?

QUEM ÉS TU; Ó CRISTO?

Perturbada, num angustiar desfeito,
Um denso abalo invadiu este peito
E no teu coração me refugiei.

Mas não quiseste que me debruçasse.

Ao ego ferido e revoltado
Pegaste-lhe, para que mergulhasse
Na bondade de um Pai regenerador,
ÍNTIMO, FRATERNO e CRUCIFICADO.

Meu sofrer é como que desmorenou
Quando levantaste um pouco do VÉU
E me levaste à compreensão do teu.

Ao vislumbrar o cenário cruel
Com a projecção de há mais de dois mil anos,
Num comungar da Terra e do Céu…
Aquele sangue e água, derramados,
Eram verídicos tornados
Num jorrar carmim e arrepiante.

Por favor divino e num repente
Levou consigo, humús e pedregulhos.

Meu coração, repartido aos bocados,
Tornou-se uno, vazio, sem entulho,
Como deserto nu e reparante.

O Amor foi amparo comunicante.
Os sentimentos viram a luz.
Nela desvaneceu-se a cruz.

O sol com que mimaste esse lugar,
Foi o partilhar do Cristo animador.
E me levou a querer-Te perguntar:

Quantos mistérios insofríveis
No tricenal da tua vida oculta?
E fluxos amorosos injectados
Nos seres, na tua infância, gerados?
Quantas centelhas de luz perpectuadas:
“Este é o MEU FILHO muito amado.
Ouvi.o.Nele pus os meus agrados”?.

Quantos?…Onde?…Como?…Porquê?…
Se cresceste em Graça,Idade…
E em Sabedoria, principalmente?!…

Naquele acaso inoperante,ó Jesus…
A imensidão humana investida
Na eternidade presente sofrida,
É obscuridade do Autor
De um serviço sem qualquer favor.

Mas porquê aquele momento, SENHOR?

A parte do Madeiro que captei,
Com horrores quietos e dilacerados,
Levaram-me ao Calvário, onde parei
Entre negas, recusas, fugas,traições…
Onde, tão claramente, mergulhei.

A permuta de angústias desta tarde,
ALFA e ÓMEGA,na unidade,
Levou-me a chorar em fraternidade.
Pressenti Teu olhar humedecer
Por todo o Bem que pudeste fazer.

Ao mesmo tempo, senti-me aliviada
Por saber-Te no céu ressuscitado,
Em Deus, na TRINDADE e glorificado.

Sem querer perpassou por mim.
Num milésimo instante afim,
A certeza da TUA FELICIDADE.

Serenando, numa certa quietude,
À Tua passagem em longitude,
Apercebi-me, também sensivelmente,
Da entrega humanista e presente,
Dum terno braço direito, caído
Abarcando toda a humanidade,
Da pública exposição degradante,
Do teu portento, ora enfraquecido,
Do teu cabelo pastoso, emaranhado
Por entre duros espinhos, exangue,
Da boca clamante e lavada em sangue:
“Meu Deus!Meu Deus!Porque me abandonaste?…
Da voz sumida quando afirmaste:
“Filho, desde agora, eis aí a tua mãe…
Mãe, desde agora, eis aí o teu filho”,
Da última prece, a sós também
E marcada pelo dom de servir:
“Pai, agora que tudo está consumado,
Aproxima-se a hora de partir.
Nas tuas mãos entrego o meu espírito”

E a contemplação deste momento
Deixou-me como que anestesiada.
Na hora escura silenciei.
Transportei-me ao teu âmago e chorei.
Revi Tua presença humana.
(Um amigo,em estado terminal).
Lá no céu,vi-Te entristecer
Por veres o egocentrismo a crescer.

Agora,lado a lado,na caminhada,
Olho-Te convalescente,mas cansada…
Mais confiante e mais exigente.

Conheço as pedras em que tropecei,
O perdão gratuito que recebi,
As Graças concedidas, que não pedi,
A fraqueza a que não resisti,
A não identificação conTigo
Mesmo sabendo que és meu amigo,
E tudo aproveitando para fugir.

Ó Maria, que no lava-pés encontraste
A mais bela forma de Jesus servir,
Transforma a dor, escândalo, tormento,
Egoísmo, hedonismo, impudor…
Em confiança, entrega, alento,
Rectidão e triunfo eternizador.
(Consonâncias concretas do Amor)

Assim toda a cruz será portento
No transformar do podre em fermento
Da PAZ surgindo com todo o esplendor.


Maria do Rosário Guerra
Seia,10-2-2007
(Da reflexão junto ao sacrário
Pelas 5 horas da tarde)

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