30 de dezembro de 2009

POEMA DA PAZ


Paz!

E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil, crê! Tudo é ilusão...
Quantos não cismam n'isso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!

Mas a Arte, o Lar, um filho, António? Embora!
Quimeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do além e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha unica aflicção...

Toda a dor pode suportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva... essa que traz...

Mas uma não: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar n'esse convento
Que há além da Morte e que se chama a Paz!

António Nobre, in 'Só'

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