Na praia negra logo me abanquei.
Exausta, mui cansada, derrotada.
Descobrindo o branco dentre alcatrões,
sentei-me na areia, na penumbra visada.
Falavam as ondas a debater
contrastes duros com os paredões.
Murmurava o Céu num saudoso ver:
Velhas sereias a enfeitiçar;
Amores levados, perdidos no mar;
As noites de estrelas, à luz do luar
com caravelas fazendo-se ao mar;
A voz cruenta do Adamastor,
sorvendo os homens num ar de terror;
Vagas rasgadas com tom agressor,
comendo os mastros sem dó nem amor;
Pobres de Cristo partindo a espalhar,
a força da Fé nos povos a salvar.
Fixei a areia que logo falou...
da moça bela que a salpicou
de lágrimas caídas sobre o areal.
Vieram, nascidas no matagal
p'los aventureiros que no Além-mar,
se deram para a Pátria aumentar...
sempre esperando poderem voltar
e os seus feitos poderem cantar.
Muitos ficaram pelos canibais.
Moças choravam ,mesmo não vendo mais...
os que só queriam terras descobrir
sem pressa de parar e vontade de ir.
Volvendo à areia, lembrava a História.
Sentia orgulho da minha memória.
Num sonho recordado, então lembrava
a Pátria que o mundo invejava.
Homens de então...venham cá...
construam a Pátria, melhor que está.
Mas esses homens, que bem semearam...
iguais...ainda não germinaram.
Lá longe, escutando, soam sinais,
dum Gama, dum Bartolomeu, dum Cão,
dum Cabral, dum Anchieta,dum Zarco...
dum Santo Nuno e outros mais...
de tantos navegadores imortais...
vendo seu primar de esforços sem marco,
com fome, guerra, drogas e destruíção.
E neste múltiplo visionário
olhando a areia negra aguada
contemplava a história magoada
sem rumo , dentre dúbio rotário.
E crente no negro do alcatrão
suava a Bandeira pregada no chão
mágoas sofridas à sua Nação.
-Envergonhada, recordo-lhe o Hino,
qual profecia erguendo o destino,
hoje facetado, dentre cobardias
a desoras e com forças tardias.
Quando voltas. ó Pátria amada,
pelo nosso poeta Camões cantada?
de Maria do Rosário Guerra
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