Como não recordar um Mestre como este, que nos ensinou a oração, que a ensinou com tanto amor e com um tão vivo desejo de que ela nos seja proveitosa?... Sabeis que Ele nos ensina a rezarmos no isolamento. É assim que Nosso Senhor fazia sempre, quando rezava, não que isso lhe fosse necessário, mas porque queria dar-nos o exemplo.
Já dissemos que não seríamos capazes de falar ao mesmo tempo a Deus e ao mundo. Ora não fazem outra coisa os que recitam as suas orações e, ao mesmo tempo, escutam o que se diz à volta deles, ou se demoram nos pensamentos que lhes ocorrem sem se preocuparem em afastá-los.
Não falo daquelas indisposições que aparecem por vezes e, ainda menos, da melancolia ou da fraqueza de espírito que afligem certas pessoas e as impedem de se recolher, apesar dos seus esforços.
O mesmo acontece com aquelas tempestades interiores que às vezes podem perturbar os fiéis servos de Deus, mas que Este permite para seu maior bem. Na sua aflição, procuram em vão a calma. Façam o que fizerem, não conseguem estar atentos às orações que pronunciam.
O seu espírito, longe de se fixar em nada, parte de tal maneira à aventura que eles parecem ter sido atingidos por uma espécie de frenesim. Pelo sofrimento que isso lhes provoca, verão bem que a culpa não é deles; não se atormentem, pois, por isso... Uma vez que a sua alma está doente, que se apliquem a conceder-lhe algum repouso e se ocupem em qualquer outra obra de virtude.
É isso que devem fazer as pessoas que se vigiam a si mesmas e que compreendem que não se poderia falar a Deus e ao mundo ao mesmo tempo.
O que depende de nós é que tentemos estar no isolamento para rezar. Queira Deus que isso baste, repito, para compreendermos em presença de quem estamos e que resposta dá o Senhor aos nossos pedidos!
Pensais que Ele se cala, de tal forma que não o ouçamos? Certamente que não. Ele fala-nos ao coração quando é o coração que lhe reza.
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
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