Ó Senhor quem me dera ser criança com aquela simplicidade de vida ! Que saudades dos tempos em que, sem preconceitos, saltava muros, brincava aos quatro cantinhos, a macaca, o pelão, ao esconde- esconde, às pedrinhas, à corda de mil e uma formas, em que todo o tempo era pouco para brincar. Agora começa-se a descer a escadaria, já sem medo de romper um vestido para a mãe não ralhar, mas com receio de cair e quebrar um osso. Que diferença, Senhor!
Lembro as muitas patifarias que fazia. Neste momento lembro aquele dia em que a minha catequista me dizia que Deus está em toda a parte e cuida de nós. Eu, muito senhora do meu papel, refilei:- Isso não é verdade. Lá em casa a minha mãe diz:- Aqui quem manda sou eu e só eu sei o que deveis fazer.
-Um dia, como aconteceu em outras oasiões, esteve a almoçar lá em casa, um senhor Padre, na altura pároco em Gouveia. Minha mãe preparou a mesa com todos os requintes, como só ela sabia.
Ao servir o café, ofereceu vinho do Porto... Eu, porque criança, não tinha direito a esse acrescente.
Já a refeição terminada e enquanto conversavam, discretamente fui aos cálices e comecei a beber o que neles restavam. O senhor Padre reparou e olhou com ar de censura, tirando-me o cálice da mão sem dizer palavra. Minha mãe ralhou-me e retorquiu sorrindo: -Isso não se faz! Logo eu, meia respigada, respondi:- Ó mãezinha, eu só estou a lavar os copos!
-De outra vez ia no combóio para a Figueira da Foz. Veio o revisor, meu pai entregou os bilhetes e o revisor reparou que faltava um. Diz o meu pai, olhando para mim, com a cara meia enfarruscada da fuligem do combóio, por ir à janela : Aquela menina não paga que ainda só tem 5 anos. Eu...muito espevitada disse: -Isso não é verdade! Já tenho 7 anos. O meu pai não teve outro remédio senão pagar meio bilhete.
Como estas, muitas outra recordações que foram e não voltam. Mas está a fazer-me bem recordar, pois que foi um dia muito cansativo, psicologicamente e moralmente falando.
São coisas de crianças que se confrontam com as de adultos e que é pena abandoná-las na totallidade. Ficam sempre uns restos deste passado pela vida fora e que, sem querer repetimos., mas aquela alegria devia tê-la deixado permanecer. Em substituíção vem uma outra mais pesada e menos simples. Isto , até certo ponto, é errado e reconheço. Mas sei que não voltarei ao passado, antes pelo contrário a cruz da vida vai visionando olhos sorrindo por vezes, à força. Que Deus me ajude a crescer em juizo e idade, me ajude a envelhecer e tenha sempre ocasião para me dar , com pés no chão até que o meu vôo chegue. Ouvia algumas vezes a um médico de laboratório, onde minha irmã praticou no Porto, um senhor de grandes conhecimentos, bom pai de família, sempre envolvido em congressos, dizer à minha irmã:- Senhora doutora, custa muito ser velho!
Que Deus me ampare , ajude a envelhecer e que o recordar do passado seja um amortizante para um futuro reconfortante.Amen
29 de maio de 2008
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